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quarta-feira, abril 24, 2024
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    Pensar as cidades pós-pandemia

    Por Gilda Balbino é advogada e assessora parlamentar, especialista em gerência de cidades pela FAAP. Fonte: Cidadão Cultura

    As cidades são um quebra–cabeça secreto, com regras absurdas, construída de sonhos, desejos e medos além dos grandes interesses imobiliários. E aí vem essa pandemia, fio condutor secreto, com regras absurdas e resultados catastróficos.

    De tudo isso, aproveitamos as respostas que dão às nossas profusões de imaginações coletivas e politicas que escapam à captura da representação e seus limites inabaláveis. Esse talvez seja o desafio mais arrebatador da nossa geração nos dias de hoje.

    Sonhamos muito nesses últimos anos: apenas animados pela esperança “o que temos pra hoje” ….amanhã veremos…. Somos frutos de uma cultura política de centro-esquerda, extremamente combativa, questionadora da representação política até então predominante – aquela dos pactos entre as elites. Políticas de bairros, de periferias, de mulheres, dos assentamentos e invasões rurais, do sindicalismo emergente em todo o país, do orçamento participativo, dos que não eram ouvidos, representados e que começaram a falar.

    Recebemos o Fórum Social Mundial, a ativação do movimento municipalista, crescimento e estruturação do SUS e da Saúde da Família, mandatos participativos, ação direta, poder distribuído, cidadania ativa. Essa energia de liberdade e de auto-organização, conhecemos nos governos de centro esquerda que estavam nas ruas, nas greves, nas mobilizações populares contra a redução da maioridade penal, com a aprovação da “Lei Maria da Penha”, contra a terceirização do trabalho e defesa das liberdades dos negros dos índios, dos grupos LGBTs, da PEC das domésticas, dos que lutam por direito a moradia e pelo direito à terra, contra todas as forças repressivas e conservadoras.

    Atualmente somos dirigidos através de uma política personalista e concentrada de direita. Essa pandemia voltou a mobilizar a população não em torno de temas arcaicos, inconstitucionais, verdadeiras aberrações políticas e jurídicas a que são manipulados a participar. Pensamos hoje e refletimos sobre qual aprendizado poderemos alcançar com essa tragédia, aprendizado de solidariedade, conhecimento científico, consequências da violência cometida contra o meio ambiente pelos grandes exploradores das riquezas da natureza.

    Esperança de trabalharmos novas experimentações democráticas e plataformas eleitorais. Politica distribuída para uma cidade, para toda a cidade, longe das expectativas menos imaginativas com regras diferentes, com sinergia com as ruas, com palanques, debates de todos e de todas sobre o aprendizado que esse hecatombe haverá de nos deixar.

    Quantas chaves teremos que abrir no enfrentamento contra os interesses e privilégios que sempre tiveram o agronegócio, a grande indústria nacional e internacional, banqueiros que insistirão na retomada e manutenção das politicas públicas de austeridade contra os direitos dos trabalhadores que trarão, com certeza consequências brutais para os mais pobres, estimulando o crescimento de vidas precárias, miseráveis.

    Queremos e vamos construir gestão comum da saúde pública, política de moradia, regularização e crédito fundiário, ocupação de espaços públicos políticos, com plataformas abertas, com participação popular, pensando e desejando uma política de construção da cidade, que proporcione longe do ideário neoliberal uma profusão de vínculos fortes, políticas fraternas, que produzam afetos, composições.

    Ao falar em ideário feminista é para que todos, políticos e população em geral possam entender que nós, mulheres, somos a maioria da população e o nosso trabalho invisível da gestão do comum –  coletivo. Os esforços do trabalho sub representado nos espaços de decisão, de poder político, no trabalho invisível do dia a dia que torna possível a vida de toda a população. Esse tema é absorvido cada vez mais pela cultura politica permeada de um feminismo libertário e ao mesmo tempo próximo das pessoas comuns.

    Queremos levar a vida cotidiana para o centro da política destruindo as fronteiras que separam os representantes dos representados, produzindo uma nova urbanidade, igualitária, produtora de conexões com as ruas, agentes do municipalismo participativo do “fazer a cidade” ativa, renovada, protagonizada por todos nós.

    Esse novo mundo após essa pandemia já está sendo gestado, utopias urbanas, movimentos contra os partidos e organizações burocratizadas, representações descolonizadas com poder distribuído e compartilhado. Vamos construir um novo mundo,  uma nova história, uma cidade fraterna, humana, com um espaço urbano que se transforma e se resignifica. Com as eleições que se aproximam é isso que esperamos.

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